segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cada vez é mais difícil ser brasileiro.

Que vergonha, meu Deus! ser brasileiro e estar crucificado num cruzeiro  erguido num monte de corrupção. Antes nos matavam de porrada e choque nas celas da subversão. Agora nos matam de vergonha e fome exibindo estatísticas na mão. Estão zombando de mim. Não acredito. Debocham a viva voz e por escrito. É abrir jornal, lá vem desgosto. Cada notícia é um vídeo-tapa no rosto. Cada vez é mais difícil ser brasileiro. Cada vez é mais difícil ser cavalo desse Exu perverso nesse desgoverno terreiro.  Nunca vi tamanho abuso.Estou confuso, obtuso, com a razão em parafuso: a honestidade saiu de moda a honra caiu de uso.De hora em hora a coisa piora: arruinado o passado, comprometido o presente, vai-se o futuro à penhora.Valei-me Santo Cabral nessa avessa calmaria em forma de recessão e na tempestade da fome ensinai-me a navegação. Este é o país do diz e do desdiz, onde o dito é desmentido no mesmo instante em que é dito. Não há lingüista e erudito que apure o sentido inscrito nesse discurso invertido. Aqui o discurso se trunca: o sim é não. O não, talvez. O talvez, nunca. Eis o sinal dos tempos este o país produtor que tanto mais produz tanto mais é devedor. Um país exportador que quando mais exporta mais importante se torna como país mau pagador. E, no entanto, há quem julgue que somos um bloco alegre do ‘‘Comigo Ninguém Pode’’ quando somos um país de cornos mansos cuja história vai dar bode. Dar bode, já que nunca deu bolo, tão prometido pros pobres em meio a festas e alarde onde quem partiu, repartiu ficou com a maior parte deixando pobre o Brasil.

Eis uma situação totalmente pervertida uma nação que é rica consegue ficar falida, o ouro brota em nosso peito, mas mendigamos com a mão, uma nação encarcerada que doa a chave ao carcereiro para ficar na prisão. Cada povo tem o governo que merece? Ou cada povo tem os ladrões a que enriquece? Cada povo tem os ricos que o enobrecem? Ou cada povo tem os pulhas que o empobrecem?O  fato é que cada vez mais mais se entristece esse povo num rosário  de contas e promessas num sobe e desce de prantos e preces. C’est n’est pas um pays sérieux! já dizia o general. O que somos afinal? Um país-pererê? folclórico? tropical? misturando morte e carnaval? Um povo de degradados? Filhos de degredados largados no litoral? Um povo-macunaíma sem caráter-nacional? Por que só nos contos de fada os pobres fracos vencem os ricos nobres? Por que os ricos dos países pobres são pobres perto dos ricos dos países ricos? Por que os pobres ricos dos países pobres não se aliam aos pobres dos países pobres para enfrentar os ricos dos países ricos, cada vez mais ricos, mesmo quando investem nos países pobres? Espelho, espelho meu! há um país mais perdido que o meu? Espelho, espelho meu! há um governo mais omisso que o meu? Espelho, espelho meu! há um povo mais passivo que o meu? E o espelho respondeu algo que se perdeu entre o inferno que padeço e o desencanto do céu.
Affonso Romano de Sant'Anna
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